Por René Vasconcelos
Existe um grande questionamento que assombra a humanidade desde seus primórdios; porque existe a pobreza? Porque essa distribuição desigual de renda, de oportunidade? O que permite a pessoa enriquecer ou empobrecer?
Muitos filósofos e pensadores de renome tentaram explanar de um modo sociológico esse fenômeno, outros culparam regimes governamentais, outros a política econômica, como o capitalismo. Existem inúmeras respostas, inúmeros porquês e nenhuma solução.
Nas igrejas o assunto é ainda mais profundo; porque Deus permite a pobreza? Porque existem cristãos fiéis pobres e ricos, se eles são fiéis na mesma proporção? Pior; porque existem tantas pessoas perversas com tanto dinheiro enquanto cristãos fiéis passam por tantos problemas financeiros? Porque o Senhor, o qual afirmamos justo, permite tamanha discrepância?
E teologia da prosperidade?
Os colonizadores dos EUA desenvolveram uma visão teológica deturpada baseada no Calvinismo. Eles tinham a visão de que as pessoas escolhidas por Deus para a salvação eram marcadas por serem bem-afortunadas e prósperas, enquanto as pessoas não escolhidas por Deus tinham como marca a pobreza e a miséria. As igrejas neo-pentecostais remontam essa antiga visão deturpada e tratam a pobreza como um castigo divino ou uma ação do demônio.
Essas denominações anunciam em rádios ou TVs que, caso a pessoa ingresse a tal igreja, ela será abençoada e seus problemas financeiros terão fim, se utilizando da já famosa Teologia da Prosperidade. Essa falsa teologia tem por fim indicar que todo o servo fiel do Senhor deve ser próspero financeiramente e, caso não seja, indica que há algo de errado em sua vida.
Essa é uma visão anti-bíblica visto que, se observarmos Jesus Cristo como homem, ele era apenas um carpinteiro de uma humilde região; ele não era próspero financeiramente, morava em uma casa, segundo pesquisas recentes registram, com no máximo dois cômodos, não tinha a menor vergonha disso e muito menos se sentia menos abençoado por, sendo Deus, nascer pobre.
Mas porque a pobreza?
Agora, reflitamos mais sobre a pobreza; ser pobre não significa viver em miséria. Você pode não ter dinheiro para comprar o que você deseja ou o que seu filho deseja ou até passar por dificuldade com as contas do mês; isso é reflexo da economia do seu país, das oportunidades que você teve e até mesmo das suas decisões, tomadas ao longo da sua vida.
Devemos parar de sermos egoístas e pensar que só por sermos cristãos a prosperidade deveria ser mais fácil para nós. Todos, cristãos ou não, são passíveis da riqueza ou da pobreza; não é algo espiritual. Jesus não nos engana quanto às dificuldades do mundo: “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.” (Jo 16.33)
Mas o Senhor não diz que o justo prosperará?
Devemos ter em mente que as bençãos do Senhor não são simplesmente em bens materiais; podem ser em saúde, na família, em sabedoria e outras virtudes que não apenas o dinheiro. “Mas os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz.” (Sl 37.11)
Quando a Bíblia fala em “herdar a terra” não significa posses; está relacionado a abençoar a sua descendência, assim como foi feita a promessa a Abraão. Abraão não possuiu a terra de Israel mas a sua descendência tomou posse dela e a povoou por causa da retidão de Abraão. Você sendo reto talvez não tenha posses, mas terá uma família abençoada e abundante em paz, graças a sua retidão.
Então um justo pode passar fome?
Não devemos aceitar é a miséria; devemos trabalhar e lutar incessantemente para que não falte o pão em nossas casas! Isso é nosso dever. Uma pessoa justa, com capacidade de trabalhar, não ficará parada esperando Deus abençoar; irá trabalhar sem preguiça para que pelo menos o pão não falte na mesa de seus filhos.
Esperar sentado Deus abençoar não é uma atitude honesta de quem tem condições de trabalhar. É certo que vivemos tempos em que é muito difícil arranjar emprego, mas não devemos desanimar de procurar, nem sentar esperando por um. “Fui moço e já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão.” (Sl 37.25)
E quanto aos injustos que enriquecem?
Como já dissemos, todos são passíveis de pobreza e riqueza. Não devemos de maneira nenhuma achar que uma pessoa mais rica é mais abençoada que você; ela é rica também por um conjunto de situação econômica do país, oportunidades (como heranças e possibilidade de melhor estudo) e escolhas que ela fez ao longo da vida.
Não podemos invejar, pois se a pessoa for injusta, ela terá a sua recompensa em seu determinado tempo. “Descansa no SENHOR e espera nele, não te irrites por causa do homem que prospera em seu caminho, por causa do que leva a cabo os seus maus desígnios.” (Sl 37.7)
Conclusão
Assim como não devemos achar que a riqueza é sinal de benção, também não podemos achar que a pobreza é um sinal de santidade. Você pode muito bem almejar uma situação financeira melhor e trabalhar muito para tal. O que você não deve é deixar que isso seja o mais importante para você, nem medir as pessoas por sua posição social.
Outra coisa que devemos observar também é que existem pessoas com mais facilidade em ganhar dinheiro que outras. O autor de Eclesiastes nos diz que isso é um dom de Deus.
Devemos nos importar em tentar viver bem com o nosso salário, seja ele grande ou pequeno, mas que seja justo e honesto e recebido com alegria.
“Eis o que eu vi: boa e bela coisa é comer e beber e gozar cada um do bem de todo o seu trabalho, com que se afadigou debaixo do sol, durante os poucos dias da vida que Deus lhe deu; porque esta é a sua porção. Quanto ao homem a quem Deus conferiu riquezas e bens e lhe deu poder para deles comer, e receber a sua porção, e gozar do seu trabalho, isto é dom de Deus.” (Ec 5.18,19)
Que procuremos trabalhar, suar a camisa pelo sustento de nossa família e adorar a Deus através de nossa alegria em receber nosso salário, fruto do nosso esforço. Se existem diferenças sociais, elas se acabam quando existe um coração que se alegra pelo fruto de suas mãos. Paremos de querer colher mais do que plantamos. Paremos de indagar pela história dos outros e sejamos responsáveis pela nossa própria história.
Fonte: CACP
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Gostei do post. Realmente algo escrito com ponderação e sem aquela energia maravilhosa e passional que encontramos tantas vezes. Eu gostei do tom.
Dinheiro é sempre um assunto polêmico na igreja. Engraçado isso. Sempre foi polêmico. Jesus falou muito de dinheiro, de riqueza. Chegou, inclusive a colocá-lo com seu maior rival ("ninguém poderá servir a dois senhores", ele disse, ou serve a Deus ou às riquezas). Falou sobre não acumularmos tesouro na terra. Não é algo novo.
Na verdade, não sei porque as pessoas se preocupam tanto com dinheiro. Quer dizer, sei sim, quanto mais nos afastamos da verdade das Escrituras, nos tornamos mais mundanos, ainda que estejamos na igreja.
Mas, sabe, não culpo os pastores, as denominações, os programas de TV. Todo cristão tem em si o Espírito Santo, que segundo o apóstolo João, nos ensinaria sobre todas as coisas. Cada um de nós só é tentado por sua própria cobiça, é o que a Palavra diz.
O problema não está na Teologia da Prosperidade, não a meu ver. O problema está quando lemos a Palavra de Deus (A PALAVA DE DEUS!!) como se fosse um livro de auto-ajuda, um conselho. A Palavra de Deus é viva e eficaz.
Afe, falei demais!!! Ainda falaria mais, mas fico por aqui.
Abraços.
http://beadisciple.wordpress.com